Pessoas de vários estados — e também do exterior — estão chegando para a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 1º de janeiro. A tensão causada pelos atentados não desencorajou aqueles que desejam celebrar a democracia
A festa da democracia movimenta a esperança de um Brasil melhor e uma multidão de pessoas vindas de todos os cantos do país e do exterior. Uma gente movida pelo desejo de ver de perto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito com 60.345.999 votos, tomar posse em 1º de janeiro, pela terceira vez na Presidência. A confiança de que as forças policiais cumprirão o papel constitucional de garantir a segurança e a ordem encoraja brasileiros de todas as idades a deixarem suas cidades rumo à capital. E outras tantas, a abrirem suas casas para receber amigos, familiares e até desconhecidos.
Para além dos festejos, Eduardo diz não acreditar em um milagre durante a gestão do petista. Sonha, entretanto, em voltar a ter orgulho de ser brasileiro, independentemente de onde esteja. “Espero que este novo governo seja de conciliação. Que possa trazer de volta a paz perdida por tantos anos de incitação ao ódio e a divisão. Que a gente possa voltar a ser um só Brasil”, sonha.
Fé e destino
Em setembro, o fotógrafo Danilo Fernandes Dias Alvarez, 24, e a mãe, Mônica Mata Machado Fernandes Dias, 61, assistente social aposentada, residentes em Belo Horizonte, estavam com passagens aéreas para Brasília e reserva de hotel em mãos. As eleições ainda estavam em fase de campanha, com debates acirrados, mas as pesquisas apontavam que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seria eleito. Com esse sentimento de “já ganhou”, a dupla otimista decidiu fechar as compras.
Mãe e filho saem nesta quinta-feira (29/12) de Belo Horizonte e estão muito animados para o evento histórico, mas também preocupados e com medo por causa dos últimos acontecimentos. “Planejamos passar a virada na Esplanada e, no dia seguinte, acompanhar toda a posse o mais próximo possível do Congresso, mas o quanto a gente se sentir seguro também”, explica o rapaz, que, na ocasião da primeira posse, tinha apenas 2 anos de idade. “Esta é a realização de um sonho para minha mãe, que quis marcar presença em 2003 e não pôde”, conclui.
Para a bailarina e professora Gisele Calazans, 41, o momento será de grande celebração ao ajuntamento de forças pela vida. “Foram anos muitos cinzentos. Marcados pela destruição, pelo desafeto, pelo desamor em todos os níveis. Celebrar e festejar essa retomada, é um ato de resistência”, acredita. Brasiliense, ela mora em São Paulo há 22 anos e veio para o DF curtir a cerimônia junto ao marido e as filhas. “Minha mãe e irmã ainda moram aqui. Viemos para o Natal e decidimos que ficaríamos para o Ano Novo por causa da posse”, confessa.
Gisele brinca que o planejamento da viagem foi feito antes mesmo do resultado do segundo turno ser divulgado. “Certeza (da vitória) ninguém tinha. Mas compramos as passagens com a fé de que ganharíamos. Foi quase uma promessa”, conta a professora, deixando um recado ao presidente eleito. “A partir do dia 1º de janeiro, espero que o Brasil possa estar, prioritariamente, comprometido com a justiça social. Não vejo horizonte possível se não houver enfrentamento às desigualdades desse nosso país”, deseja.
Rede solidária
À medida que as horas passam, os brasilienses tecem uma rede de solidariedade para receber quem não tem condições de pagar pela hospedagem ou não encontrou mais vagas disponíveis na rede hoteleira. É o caso da bancária aposentada Mirian Fochi, 59. Moradora do Lago Norte, ela vai receber cinco pessoas em casa. “Soube por um grupo de whatsapp que muita gente está precisando de hospedagem solidária e me prontifiquei a recebê-los. Fizemos uma vídeo-chamada e nos conhecemos um pouco. Uma das pessoas já chegou. As demais, só no sábado. Será quando vamos saber mais um do outro”, conta Mirian, revelando que as pessoas virão da Bahia, Fortaleza, Porto Alegre e do Peru.
A primeira a chegar na casa da bancária foi a advogada baiana Ana Maria Teixeira, 66. Ela conta que a viagem foi planejada, como uma espécie de previsão. “Mesmo antes da vitória de Lula, eu já tinha tomado a decisão de vir para a posse”, conta. “Espero que tudo corra em paz. Estive na Esplanada, vi que vai ser uma festa linda e vou participar ativamente dela”, revela a advogada.
A servidora aposentada do Banco do Brasil Hilda Resende, 55, também faz parte da rede de solidariedade que está abrigando os visitantes para a festa da posse. Oito pessoas do Rio de Janeiro chegaram à casa dela e estão à espera do grande dia. Ela atua nas redes sociais e faz parte do Comitê Rede Lular, projeto de mais de 100 voluntários para receber os viajantes para a posse do Lula. “Estamos incentivando pessoas a virem para a posse e respondendo dúvidas, cuidando da segurança e alojamentos para as caravanas”, diz a filiada ao Partido dos Trabalhadores. “Filiei-me recentemente, depois que o próprio Lula passou a me seguir no Twitter”.
O jornalista Adonis Teixeira, 39, é um dos hospedados na casa de Hilda. Há quatro anos, ele participa de um projeto militante por Lula no Rio de Janeiro. Após a morte do pai, que coordenava a iniciativa, Adonis tomou a frente do projeto e trouxe, junto com outras sete pessoas, um boneco inflável gigante do presidente eleito. “Vamos levar o boneco para a celebração da posse, perto do palco, e interagir com o público que vai poder assinar o nome no boneco”, antecipa. “Espero viver muitas alegrias e muitas emoções de estar ali naquele momento no qual meu pai também gostaria de estar. Ele foi o criador do boneco, cuja razão de existência é a eleição e a posse de Lula”.
Para alguns, o sonho de vir para a posse do terceiro mandato de Lula como presidente da República vem de muito antes da oficialização do petista como candidato ao cargo. A nômade digital Keila Borges de Moura, 41, traça o plano de vir para o evento desde que Lula foi preso, em 2018, quando começou a construir o motorhome junto à mãe aposentada, Vilma Borges, 66. Além da mãe e da filha, também veio a Piupiu, a galinha de estimação de 4 anos. “Nós tínhamos certeza que Lula daria a volta por cima e que se tornaria presidente mais uma vez. E essa é a primeira viagem do nosso motorhome”, revela. O trio veio de Cabo Frio (RJ) e se instalou na Concha Acústica, na Vila Planalto, mas, na véspera da posse, pretende se mudar para as proximidades do Palácio do Planalto.
Segurança
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), garantiu, essa semana, que todo o efetivo das forças de segurança da capital vão trabalhar para garantir que as cerimônias de posse ocorram de forma pacífica. E que a Polícia Civil está empenhada na investigação e indiciamento dos responsáveis pelo atentado terrorista promovido por um empresário bolsonarista George Washington Sousa, 54, preso desde sábado acusado de ter planejado explodir um caminhão com querosene de avião nas imediações do aeroporto.
Por meio de suas redes sociais, o atual secretário de Segurança Pública (SSP-DF), Júlio Danilo, postou ontem sobre uma reunião de alinhamento, em seu gabinete, em que estiveram presentes gestores da pasta e promotores do MPDFT. O encontro foi para falar sobre o trabalho e a atuação das forças de segurança do DF nos eventos que marcam a posse do presidente eleito, segundo Júlio Danilo. “Um protocolo de ações integradas foi construído, com participação de órgãos federais e locais, que visam a manutenção da ordem pública e a segurança do público, de edifícios públicos e das autoridades presentes no evento”, destacou.